O governo
fechou hoje acordo com a indústria farmacêutica para
congelar o preço dos medicamentos até o fim deste ano.
Os laboratórios que reajustaram, em
julho, o preço de 279 medicamentos terão de retroceder aos
níveis de preços que eram cobrados no dia 1º de junho e
mantê-los até 31 de dezembro de 2000.
O anúncio foi feito pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso que afirmou que "não seria
justo que o governo ficasse de braços cruzados vendo subida
de preços, em certos casos, abusivas".
Desde 1994, quando teve início o
Plano Real e foi proibida a indexação, os preços da
economia não são mais congelados. Seis meses, acreditam os
técnicos do governo, é o tempo necessário para que o
grupo de trabalho formado por representantes dos ministérios
da Fazenda, Justiça e Saúde, elabore regulamentação para
o setor farmacêutico.
"Nós estamos empenhados,
sobretudo no que diz respeito aos medicamentos de uso
continuado, aqueles que normalmente as pessoas mais velhas
necessitam e não podem sofrer mais esses abusos de preços",
ressaltou o presidente.
Fernando Henrique afirmou ainda que o
governo vai liberar mais verbas para investimento em
pesquisas e desenvolvimento de medicamentos no País,
lembrando que o ministro da Saúde, José Serra, está na Índia
negociando a questão do fornecimento de sais básicos para
a produção de remédios.
As quatro associações que
representam cerca de 50 laboratórios -responsáveis por 85%
da comercialização de remédios no País - assinaram o
protocolo de intenções proposto pelo governo se
comprometeram a enviar fax à Secretaria de Acompanhamento
Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, como forma de
adesão ao acordo.
A expectativa do secretário de
Acompanhamento Econômico, Cláudio Considera, é que no
prazo de dez dias pelo menos 90% dos laboratórios façam
suas adesões. No entanto, ele admitiu que não há qualquer
punição prevista pelo governo para quem não participar do
acordo.
Segundo o secretário de Gestão e
Investimento em Saúde, Geraldo Biasoto, as empresas
continuam com liberdade para não fazer parte do programa.
"Mas evidentemente essas empresas vão estar numa
vitrine para a população", disse ele lembrando que
haverá uma lista com o nome dos laboratórios que fazem
parte do acordo.
Essa relação será divulgada nos
sites da Internet dos ministérios da Saúde (www.saude.gov.br),
Justiça ((www.mj.gov.br)
e Fazenda ((www.fazenda.gov.br).
Por meio destes sites, os consumidores também poderão
fazer reclamações ou denúncias sobre as variações de
preços de medicamentos, caso existam.
Trégua - Para esta trégua, o governo
deverá contar com a participação da população para
saber se os laboratórios estão cumprindo o acordo. As
empresas se comprometeram a disponibilizar, no prazo 15
dias, linhas de chamada gratuita (0800) para orientar os
consumidores sobre eventuais divergências de preços
praticados, assim como informar ao Governo os dados estatísticos
dessas reclamações.
De acordo com um participante da reunião,
os representantes dos laboratórios não ofereceram resistência
para a trégua. Se a negociação fosse difícil, garantiu o
participante, a alternativa que seria oferecida às empresas
seria o controle de preços dos medicamentos, que seria
feito por meio de uma Câmara Técnica e a submissão dos índices
reajustes aos órgãos responsáveis.
Mesmo com o congelamento, as indústrias
ainda poderão continuar a responder processo administrativo
instaurado pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), do
Ministério da Justiça. "O importante é que o acordo
não acaba com os poderes de polícia do governo",
disse o secretário de Direito Econômico, Paulo de Tarso
Ribeiro ao sair da reunião.
Regulamentação - O grupo de trabalho
responsável pela regulamentação do setor, que deve ser
criado em dez dias por decreto presidencial, já tem algumas
propostas em análise.
Muitas das medidas que serão
discutidas foram sugeridas durante depoimento dos
integrantes do governo na Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) dos Medicamentos, que atuou de dezembro do ano passado
a maio deste ano.
Uma das propostas feita pelos técnicos
do Ministério da Saúde é organizar o poder de compra do
governo em relação aos medicamentos como é feito em
diversos países do mundo, por exemplo, Reino Unido. Os remédios
comprados com receitas médicas prescritas por médicos do
Sistema Único de Saúde (SUS) poderiam ser mais baratos do
que o preço de mercado. Será definido se esses remédios,
subsidiados pelo governo, seriam vendidos dentro do próprio
SUS ou em farmácias conveniadas.
Tanto representantes dos laboratórios
quanto das distribuidoras de medicamentos poderão
participar das reuniões do grupo, mas não terão direito a
voto sobre a nova política de saúde pública que será
adotada pelo governo.